O Sistema Educacional Falido e Caminhos para Reconstruí-lo
- Jackeline Menezes
- 5 de jun.
- 4 min de leitura
Por mais que amemos ensinar, quem trabalha com educação já sentiu aquele peso: o sistema parece não funcionar. E não é impressão — é realidade. Um artigo recente publicado por Bena Ver Beek em sua newsletter Substack trouxe uma frase que me fez parar tudo: "O sistema educacional está 97% quebrado."

Essa afirmação ousada ganhou eco em minha mente, e resolvi fazer o que faço como educadora: pesquisar, refletir, e acima de tudo, compartilhar. Afinal, reconhecer que o sistema educacional está falido é o primeiro passo para pensarmos juntos em como reconstruí-lo.
🔗 Leitura ou áudio recomendada: The Education System is 97% Broken – Bena Ver Beek
O que significa dizer que o sistema educacional está falido?
Quando falamos em falência, não estamos apenas nos referindo a prédios velhos, salários baixos ou equipamentos defasados. A falência é mais profunda: está na estrutura, na lógica e no propósito.
A escola de hoje, em grande parte, foi moldada no século XIX, para formar operários disciplinados e obedientes. Foi criada para a era industrial, mas ainda é usada na era da informação. Um modelo que ainda valoriza mais a memorização do que a criatividade; mais a obediência do que a inovação; mais o silêncio do que o pensamento crítico.
Sinais de um sistema que não atende mais
Professores esgotados e mal remunerados. O que é virar noite preparando aula, corrigindo prova, dando atenção a cada aluno, e mesmo assim se sentir insuficiente? A sobrecarga e a desvalorização são sintomas de um sistema doente.
Alunos desmotivados e ansiosos Os estudantes não aprendem mais como antes. Muitos questionam o sentido do que estão aprendendo — e com razão. O conteúdo muitas vezes não conversa com o mundo real.
Foco em notas e provas, não em habilidades Avaliar com base em números e fórmulas únicas gera exclusão e sufoca talentos. Onde estão a empatia, a colaboração, a inteligência emocional no currículo?
Tecnologia mal integrada A maioria das escolas usa tecnologia como enfeite ou emergência. Poucas sabem realmente integrar IA, dados e personalização no processo de ensino-aprendizagem.
Por que isso deveria nos preocupar?
Porque a educação forma a base de tudo: de cidadãos, profissionais, famílias, e da própria democracia. Quando o sistema falha, falham também as oportunidades, a equidade e o futuro. E estamos vendo isso escancarado: evasão escolar, violência nas escolas, depressão em jovens, professores adoecendo.
Então o que podemos fazer?
O artigo de Bena Ver Beek não para na crítica. Ela apresenta caminhos práticos para reconstruir o sistema, e me inspirei em vários deles para traçar aqui 5 pilares para a mudança.
1. Propósito antes de currículo
Hoje o currículo é o centro. Mas e o propósito? Por que ensinamos o que ensinamos? Para formar o quê? Precisamos urgentemente rever os objetivos da escola. Educação é para formar seres humanos éticos, críticos e preparados para um mundo em constante mudança — e não apenas para passar no vestibular.
2. Professor como mentor e não como transmissor
A tecnologia pode ensinar conteúdos. Mas nada substitui o professor como guia, inspiração e apoio. Isso só é possível com formação contínua, tempo para planejamento e valorização da sua escuta ativa.
3. Personalização com apoio da IA
Estamos em 2025. A inteligência artificial já permite adaptar conteúdos para diferentes níveis, estilos e ritmos de aprendizagem. O problema não é a tecnologia, mas como usamos (ou não usamos) ela na prática pedagógica. Plataformas como ChatGPT, Khanmigo e NotebookLM estão aí para provar que é possível dar um ensino mais ajustado à realidade do aluno.
4. Avaliações mais humanas
Medir aprendizagem com uma prova única é como julgar um peixe pela sua capacidade de subir em uma árvore. Já dizia Einstein. Precisamos de portfólios, autoavaliações, projetos práticos, feedback contínuo e avaliações formativas com foco no progresso individual, não só no acerto.
5. Escola como espaço vivo e seguro
O ambiente escolar deve ser mais do que um lugar para "cumprir carga horária". Deve ser um espaço onde se sente pertencimento, segurança emocional e liberdade para criar. Isso passa por replanejar horários, infraestrutura e até o papel da gestão.
Exemplos que já estão acontecendo
Escolas na Finlândia com horários mais curtos, menos lição de casa e foco em habilidades socioemocionais;
Projetos como o Escola da Ponte (Portugal), onde os alunos participam ativamente das decisões da escola;
Modelos híbridos no Brasil, com metodologias ativas e integração de IA, como o SESI Lab ou o LIV (Laboratório Inteligência de Vida).
Não basta reformar, é preciso redesenhar
Estamos em um ponto de inflexão. Reformar, ajustar ou colocar mais tecnologia em um sistema quebrado não resolve. É como tentar trocar os pneus de um carro enquanto ele ainda está em movimento — e afundado na lama.
Precisamos redesenhar. Com coragem. Com diálogo entre professores, alunos, gestores, famílias e pesquisadores. O novo sistema precisa ser co-construído.
E como começamos?
Começamos assumindo a falência. Não como algo negativo, mas como libertador. Admitir que não funciona é o início da mudança.
Depois, buscamos exemplos, estudamos alternativas, criamos redes de apoio entre professores (como este blog!), ouvimos os alunos e testamos. Com pequenos passos. Com grandes sonhos.
A esperança está na ação
Sim, o sistema educacional está falido. Mas isso não é o fim — é um novo começo. A transformação começa por nós: educadores, gestores, pais e estudantes que se recusam a aceitar que tudo "tem que ser assim".
Se você chegou até aqui, é porque acredita em mudanças. E se acredita, compartilhe, converse, reflita. A educação precisa de gente como você.
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